Invisível, quase indetectável, tomou forma, jeito, tsunami em água parada, olhos de jabuticaba,
linda face de sardas temperadas pelo sol, pele mergulhada em leite, corpo é fascínio, um deleite,
tortas nuances, forte maturidade, a menina mulher de voz rouca tranquila e a rara sintonia afinada,
e então, barreira quebrada, o homem passarinho e a mulher violeta, meteoros e cometas.
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Serás que me amaste ou apenas se livraste? Montanha nas costas, pedra ao chão,
o livro inglês que enjoaste, o romance que escreveu, leu, queimaste, querido passatempo,
não acreditaste na sinopse, não seria páginas incompletas a converteste, preferiste nadar o nada,
curaste sua praga, seu medicamento tarja preta nas horas vagas, defeitos colaterais, evidenciaste.
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Repentinamente, coração pula, pobre coitado de pernas curtas,
sofre infeliz, tolo, sozinho, não pode ver um abismo, morte é juízo,
infarto é sobrevida, choques elétricos nesse músculo ferido, maldito,
o que há de melhor, crucificado em madeira com pregos enferrujados.
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Passarinhando, amanheço cantando, benquisto, verde colorido, empoleiro-me aqui todos os dias,
embelezo a janela, dou vida ao telhado, lhe dou prosa, lhe arranco risos, pios e voos, mil vezes por dia,
entro e saio deste recinto, alpiste, linhaça, girassóis e uma violeta, sorte deste pequeno cheio de peninhas,
saio de noitinha, não sou o cuco, parasita de ninhos, veja, sou um cortês periquito, australiano engraçadinho.
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Te notei, noite fria, um bar, meia lua, um vestido verde estonteante, entediada, um balcão, dois copos,
aquele homem não lhe merece, olhe-me, deixe-me pagar uma bebida, adivinharei a sua preferida, errarei, então me dirá,
farei rir de qualquer bobagem, prometo, explicarei que a lua não tem sentido sem um par como nós, ganharei tempo,
eu sei, não cairá em palavras fáceis, lhe desafio a me seguir, guiarei sem direção, enrolando seu juízo.
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O invisível sopra-lhe, moroso, carinhoso, vistoso quando lhe levanta voo,
veja-a como és bela e leve, sobrevoa, gira, pousa, embalada pelo imprevisível,
em tempos chuvosos, acalma-se, mostra teu apogeu nos dias lustrosos, perfeição existe,
o total equilíbrio entre a densidade do ar e o peso da pluma, beleza, está na forma.
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Sem licença, sem permissão, todas as aspirações suprimidas, cuidado, chão frágil, vidro quebradiço, pisar devagarinho, cochichar no ouvido, silenciar o coração golpeado, abraça-me, deixe-me forrar o caminho, sou as mãos que lhe segura, os olhos na escuridão, prometo ser o nada que precisa, mais uma vez, respire, sinta a brisa acariciar seu lindo rosto pela janela, enquanto costuro todas as feridas abertas.
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Dona da noite, abandonaste o lar sem graça, desfilando em vestido violeta e sandália preta,
a estrada de pedra como tapete vermelho, encontrará um velho amigo, sozinha, insinuante, brilhante,
a lua tem o melhor ângulo, enquanto as estrelas provocantes deslizam no corpo, belíssimo esboço,
o prazer de um bar no fim de noite, acompanhada, whisky amante e cerveja deturpante a esperar.
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Onde está o amor se ele não queima? Mal sinto o calor entre os dedos, minha pele estás a gelar, meus toques tateiam em vão na brasa, restos de um amor envelhecido, quase esquecido, enegrecido, preciso queimar para vivê-lo, acender este pobre coração, aquecer os invernos, tempos duros e cruéis, se há luz na escuridão, deve haver algo nas profundezas deste carvão, seco e inflamável.
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Trancados, abafados, ares compartilhados, covil humano fechado, prosas, lembranças, aquele dia, o momento inesquecível, agora, risos, sorrisos, malvadezas, malevolência,
confinados, o instinto natural grita alto, sei lá, jazz no rádio, celulares desligados, pandemia condena o mundo, não toca aqui, onde toco, só dois e coisa alguma a fazer, quase.
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